quarta-feira, 25 de julho de 2012

Santa Ana - 26 de Julho

Imagem da Igreja Santa Ana - Pitanga, PR

Santa Ana
26 de Julho

Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.

Várias vezes a Bíblia cita o nome de Maria, a mãe de Jesus. Ela teve um pai e uma mãe, mesmo que a Bíblia não cite os seus nomes. O que sabemos deles provém da tradição. Esta nos informa que os pais da Jovem de Nazaré foram Joaquim e Ana. A festa deles é celebrada no dia 26 de Julho. Na Bíblia aparecem três mulheres importantes com o nome de Ana: a mãe de Samuel (1Sm 1,20), a mãe de Tobias (Tb 1,9), e a profetisa Ana, que encontrou Jesus no dia de sua apresentação no templo (Lc 2,36-38).

Os nomes de Joaquim e Ana, como pais de Nossa Senhora, aparecem já no século II no Proto-evangelho de São Tiago. Mas o culto desses dois santos começou a se desenvolver a partir do século VI no Oriente e no século seguinte no Ocidente. Sua festa só foi introduzida no calendário litúrgico no século XVI.
Segundo os evangelhos apócrifos, Ana era filha de um judeu nômade chamado Akar, da tribo de Levi, e de Santa Emerenciana. O casal Akar e Emerenciana teve além de Ana outra filha: Santa Esméria, mãe de Santa Isabel e avó de João Batista. Por isso Maria e Isabel eram primas (Lc 1,36). José de Arimatéia era seu tio materno. 
Uma tradição carmelitana afirma: “A três eremitas do Carmelo foi manifestado o significado da expressão ‘broto do tronco de Jessé’ (cf. Is 11,1-2): de Santa Emerenciana nascerão Santa Ana, mãe da Virgem Maria – da qual nascerá o Salvador, e Santa Esméria, mãe de Santa Isabel - da qual nascerá João Batista” (cf. P. Dorlandus. De vita S. Annae). 
Ana casou-se com Joaquim, que era da estirpe de Davi. Foram morar em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda (Jo 5), onde hoje se ergue a Basílica de Sant’Ana
Uma tradição atesta que Joaquim, nascido em Nazaré, era um homem muito virtuoso e rico. Durante muitos anos, Joaquim e Ana foram publicamente debochados por não terem filhos. É bom lembrar que, na época o não ter filhos era considerado uma punição de Deus. Em certa ocasião Joaquim foi humilhado no templo pelo sacerdote Ruben que recusou a oferta dele. O sacerdote ainda jogou em sua cara que ele era um amaldiçoado por Deus e lhe disse: “Você não tem o direito de ofertar, porque não gerou um filho sequer!” A reação de Joaquim foi ir para o deserto, jejuar e rezar durante 40 dias.


Retiro de São Joaquim entre os Pastores - Giotto

Ana ficou em Jerusalém chorando. Não deixou de rezar e pedir a Deus a graça de ter um filho. Certo dia, enquanto Ana rezava, apareceu um anjo e disse-lhe que Deus tinha atendido as suas preces. O anjo também pediu para que ela fosse encontrar o seu marido que, em obediência a outro anjo, estava retornando para casa. Eles se encontraram, segundo a tradição, na chamada Porta Áurea. Na ocasião Ana prometeu que consagraria a Deus a criança que nascesse de seu seio. Aos 40 anos de idade, Santa Ana concebeu e deu à luz a uma menina, que recebeu o nome de Maria. Ana cumpriu a sua promessa e ofereceu Maria a serviço de Deus, no templo, quando ela tinha 3 anos.
De acordo com uma tradição Ana e Joaquim viveram o tempo suficiente para ver o nascimento de Jesus. Joaquim morreu logo após ver o seu Divino neto Jesus, quando este foi apresentado no templo de Jerusalém.
 No entanto outra tradição conta que ele morreu bem antes do nascimento de Jesus. Uma terceira tradição conta que Ana faleceu antes do casamento de Maria e foi sepultada em Jerusalém ao lado de seu esposo.
          Um documento armênio do século XIII afirma que Joaquim e Ana eram justos e puros; que levavam uma vida piedosa e imune à calúnia; que eram perseverantes na oração, no jejum e na abstinência; que formaram uma família de assídua participação ao templo, cheia de caridade, incansável no trabalho e, em consequência, rica de bens. O mesmo documento diz que Joaquim e Ana dividiam o rendimento anual em três partes: uma para o Templo e sustento dos sacerdotes; outra para os pobres, e a terceira para eles mesmos. 
O grande teólogo São João Damasceno apresentava Joaquim e Ana como modelos de pais e esposos cujo principal dever era educar seus filhos.
Mas também podemos vê-los como modelo de fidelidade e confiança em Deus, como modelo de pessoas que rezam e colocam suas vidas nas mãos de Deus.
Santa Ana é invocada como protetora das mães e das mulheres que estão para dar a luz.
Em alguns países as mulheres, que tem dificuldade para engravidar, fazem novenas a Santa Ana para conseguirem ter filhos.

Desenvolvimento da devoção

O culto litúrgico de Santa Ana apareceu no sexto século no Oriente e no século seguinte no Ocidente. O imperador Justiniano construiu, em Constantinopla, uma igreja em honra de Santa Ana em torno do ano 550. Seu corpo foi trasladado da Palestina para Constantinopla em 710. Algumas de suas relíquias estão dispersas no Ocidente, como em Duren (Rheinland-Alemanha), em Apt-en-Provence, (França) e Canterbury (Inglaterra).

No século X a festa da concepção de Santa Ana era celebrada em Nápoles e se espalhou para Canterbury pelo ano 1.100 d.C. O Papa Urbano VI com a bula Splendor aeternae gloriae, em 21 de junho de 1378, permitiu o culto na Inglaterra
O livro Tractatus de laudibus sanctissimae Annae de João Trithemius (Mainz 1494) contribuiu muito para aumentar a Veneração a Santa Ana.
No norte da Europa, onde o culto de Ana atingiu a máxima difusão nos séculos XIV e XV, foi muito usada a água de Santa Ana para tratar febres e tumores. A ela foi consagrada a terça-feira, o dia da semana em que, segundo a tradição, nasceu e morreu.
Santa Ana era particularmente invocada pelas parturientes e pelas mulheres que queriam engravidar. Muitas bordadeiras e lavadeiras honravam Santa Ana não trabalhando no dia de sua festa, porque, segundo a tradição, a própria Santa Ana foi bordadeira e lavadeira.
A mãe de Maria também foi escolhida como a padroeira de várias categorias de trabalhadores, como ourives, carpinteiros, marceneiros, mineradores. Na Alemanha muitos centros de mineração eram chamados de Annberg = Monte de Ana.
O culto a Santa Ana chegou a ser atacado por Martinho Lutero, especialmente as imagens com Jesus e Maria, um aspecto favorito dos pintores da Renascença. Apesar dos ataques de Lutero, a devoção a Santa Ana continuou crescendo e por isso a Santa Sé estendeu a sua festa para toda a Igreja em 1584.
É desta época também a construção da Igreja Santa Ana no Vaticano. A Arquiconfraria “dei Palafrenieri” (encarregados de cuidar da cavalaria), instituída em 1378, tomou como padroeira Santa Ana. Em 1565 recebeu a licença de construir uma própria igreja no Vaticano. Encarregou o arquiteto Giacomo Barozzi detto Vignola para fazer o projeto e construir a igreja. Foi inaugurada em 1583. Em 30 de maio de 1929 o Papa Pio XI instituiu a Paróquia Santa Ana no Vaticano e a confiou aos padres agostinianos.
Pontifícia Paróquia de Sant'Ana no Vaticano

Em Roma, no largo Venosta, no início da via in Selci, há uma igreja copta dedicada a São Joaquim e Santa Ana. Sua construção foi iniciada em 1589. 
Os Carmelitas celebram com especial devoção os seus santos e buscam neles a expressão mais viva e genuína do carisma e da espiritualidade da Ordem. Por isso, celebram com particular solenidade a festa dos protetores da Ordem, São Joaquim e Santa Ana, juntamente com São José.

Uma aparição de Santa Ana na França, em 1625, nas cercanias do povoado de Auray, muito colaborou para o aumento da devoção. O Papa São João Paulo II mencionou esta aparição durante a missa celebrada na Basílica de Santa Ana em Auray. Disse o Papa: “Dirigimo-nos a Santa Ana que apareceu a Yves Nicolazic nesta aldeia onde, com a sua esposa Guillemette, formou um casal cristão estimado por todos: «Yves Nicolazic, não tenhas medo. Eu sou Ana, a mãe de Maria. Deus quer que eu seja honrada neste lugar». Na ocasião Santa Ana pediu para que fosse construída ali uma igreja dedicada a ela. Assim se fez e milhares de peregrinos anualmente passaram a visitar o santuário da avó de Jesus na Bretanha. A visita de João Paulo II (1996) motivou um grande aumento de peregrinos ao santuário.

       O primeiro santo canonizado nascido no Brasil, Frei Galvão, incluiu Sant’Ana em seu nome quando iniciou o noviciado em 1760, porque Sant’Ana era “a avó de Jesus e padroeira de sua família” (GALVÃO Edson. História Ilustrada de Santo Frei Galvão, Guaratinguetá: 2011). Assim passou a se chamar Frei Antonio de Sant’Ana Galvão.
   Na Alemanha, os soldados de Schönbrunn (Burgebrach), como agradecimento por terem voltado vivos da Segunda Grande Guerra, construíram uma capela dedicada a Santa Ana no Naturpark Steigerwald, Schönbrunn - Região Burgebrach.


Capela de Santa Ana no Naturpark Steigerwald, Schönbrunn

Papa Francisco, em sua vista ao Canadá (julho de 2022), fez questão de visitar a Basílica de Santa Ana em Quebec e ali celebrar uma missa. Esta basílica é mais antigo lugar de peregrinação da América do Norte. É um dos principais locais religiosos do Canadá, tanto é que recebe mais de meio milhão de peregrinos anualmente. A Igreja Católica já reconheceu muitos milagres de curas de doenças neste santuário. Santa Ana é a padroeira do Quebec.
Papa Francisco em sua visita à Basílica de Santa Ana - Quebec, 28/07/22



No Brasil Santa Ana é Padroeira de:
-       2 Arquidioceses: Botucatu e Feira de Santana;
-       7 Dioceses: Caicó, Coari, Goiás, Itapeva, Óbidos, Serrinha e Tianguá;
-       Prelazia: Itaituba;
-       16 catedrais: Barra do Piraí, Botucatu, Caetité, Caicó, Coari, Feita de Santana, Goiás, Iguatu, Itaituba, Itapeva, Mogi das Cruzes, Óbidos, Ponta Grossa, Serrinha, Tianguá e Uruguaiana, além de inúmeras paróquias e capelas.
-       1 Estado: Goiás;
-        e muitas cidades, com destaque para Barra do Piraí, Botucatu, Caetité, Caicó, Coari, Feita de Santana, Goiás, Iguatu, Itaituba, Itapeva, Itaúna (MG), Mogi das Cruzes, Óbidos, Ponta Grossa, Serrinha, Tianguá e Uruguaiana.
-   Não se pode esquecer que também numerosas vilas e bairros levam o nome de Santana, como em São Paulo, onde inclusive há uma estação do metrô.
-  A Arquidiocese do Rio de Janeiro tem como padroeiro principal São Sebastião, mas Sant’Ana é co-padroeira. 

Santana foi uma das 15 capitanias hereditárias do Brasil. Estabelecida em 1534, tinha como donatário Pero Lopez de Sousa. Era a última das capitanias ao Sul. Começava na atual ilha do Mel e ia até Laguna, SC, uma extensão de 40 léguas.

Em Ponta Grossa, PR, há um colégio e faculdade com o nome de Sant'Ana. Estas instituições de ensino são administradas pelas irmãs Congregação Missionárias Servas do Espírito Santo, fundada por Santo Arnaldo Janssen SVD. O colégio foi fundado em 1934.

Há muitas localidades com o nome de Santa Ana (Sant’Ana ou Santana), como por exemplo: Santana do Tapará, um distrito portuário de Santarém, PA. Ali começa a rodovia PA-255, mais conhecida por Santarém-Monte Alegre.

No município de Nobres, MT, encontra-se a Terra Indígena Santana habitada por indígenas Bakairi. Esta TI foi homologada em 14 de setembro de 1989.

Estátua de Sant’Ana, esculpidas em granito pelo escultor Humberto Cozzo - Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro



Catedral de Sant'Ana - Itaituba, PA


Oração a São Joaquim e Sant'Ana

  Ó Beatíssimos pais da Mãe de Deus, S. Joaquim e Sant’Ana, nós vos saudámos e bendizemos com devoção e amor. Alegramo-nos de todo o coração pela vossa glória e por aquele sublime privilégio pela qual Deus vos escolheu para serdes os pais da Mãe de Deus, Maria Santíssima. Rogai por nós a Jesus e a Maria para que nós os agrademos em tudo. Tende piedade de nós como os pais têm de seus filhos. Nós vos pedimos do fundo do coração para que intercedeis ao vosso divino Neto para que nos ajude na nossa caminhada e ilumine os nossos espíritos. Sede nossos consoladores na vida e na morte. Assisti-nos na nossa última agonia, para que dignamente recebamos os santos sacramentos da Igreja e, partindo deste mundo com o coração contrito, possamos chegar ao céu.



Ladainha de Senhora Sant 'Ana

(Diocese de Serrinha, BA)

 

Kyrie Eleison

Christe Eleison

Kyrie Eleison

Jesus Cristo, ouvi-nos

Jesus Cristo, atendei-nos

- Deus Pai do céu, tende piedade de nós

- Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós

- Deus. Espírito Santo, tende piedade de nós

- Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós

- Santana esposa de São Joaquim, intercedei

- Santana Mãe de Maria nossa luz, intercedei

- Sogra de José o sacrossanto, intercedei

- Avó do Redentor, intercedei

- Santana concerto do Senhor, intercedei

- Santana rainha de Jessé, intercedei

- Santana cheia de bondade, intercedei

- Mãe da fé e do amor, intercedei

- Nascida do sangue real, intercedei

- Santana flor dos Patriarcas, intercedei

- Mãe de todos os profetas, intercedei

- Mestra do amor maternal, intercedei

- Mãe do povo aqui presente, intercedei

- Nossa excelsa Padroeira, intercedei

- És Senhora dos montes, intercedei

- Nossa mãe e companheira, intercedei

- És a mãe animadora, intercedei

- Nossa fiel intercessora, intercedei

- Conduza nossas comunidades, intercedei

- Para o caminho da verdade, intercedei

- Padroeira do povo serrinhense, intercedei

- Desta cidade serrana, intercedei

- Mãe da Mãe de Deus, intercedei

- Senhora Santana, intercedei

V: Rogai por nós, gloriosa Sant'Ana

R: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.







sexta-feira, 20 de julho de 2012

SÃO WILMAR - 20 de Julho


SÃO WILMAR
20 de Julho



Nasceu nos arredores de Boulogne-sur-Mer (França, departamento Pas-de-Calais), filho de Vulberto e Duda. O livro de sua Vita conta que ele foi casado com Osterhildam, uma mulher que tinha sido casada com o nobre Vuilmarus. Este obtém em juízo o retorno da esposa, que por isso teve que deixar Vilmar. Ele então decide viver em continência e se apresentou no mosteiro de Hautmont para viver uma vida de humildade. O abade o aceita e o faz guardião do rebanho, tarefa que Vilmar executou com esmero e pontualidade como expressão de obediência e mortificação.

Depois de algum tempo o abade, admirado da sua fé e humildade e não menos da sua inteligência, o destinou para os estudos, nos quais se distinguiu pelo zelo. Tornou-se clérigo e depois padre num tempo em que nos mosteiros, regidos pela regra irlandesa, o sacerdócio era reservado a poucos. Impulsionado pelo desejo de fazer o melhor, Vilmar, com a autorização do superior, deixou Hautmont, rompeu o relacionamento com a própria família, buscou a solidão nos bosques em torno da cidade de “Mempisque”, situada em Flandres, onde viveu vários anos como eremita. Mas Deus revelou-lhe o lugar onde devia construir o mosteiro masculino de Samer, e outro feminino que mais tarde receberá o nome de Wière-au-Bois. Vilmar tornou-se o abade do mosteiro de Samer e ali viveu até sua morte acontecida no dia 20 de julho. Também ali foi sepultado. Praticou as mais grandes virtudes que se exigem de um superior de uma comunidade monástica: “egregius pastor, praecipuus magister et praeclarus doctor”, como narra o livro de sua Vita.

O seu primeiro biógrafo, que escreveu pela metade do séc. IX, fala do senhor Carlos, que é sem dúvida Carlos, o Calvo, mas não fala da destruição dos dois mosteiros feita pelos normandos, o que poderia sugerir que ele escreveu entre os anos 840 e 858. Também para a narração dos milagres acontecidos depois da morte do santo e que foram incorporados à história da sua vida terrena, o autor se baseia na tradição oral, que se deve reconhecer como frágil a um século e meio de distância. Todavia a obra tem poucos exageros, as frases são simples e concisas. A língua é a clássica, típica do renascimento carolíngeo, mas com termos arcaicos. Fica-se com a impressão de que quem escreveu, havia visto e vivido os fatos. A Vita secunda é muito legendária; essa, em relação à primeira, se baseia na tradição ainda mais tardia e só é conhecida em um manuscrito do séc. XII (Parisinus 12611).

A Vita prima apresenta uma cronologia que só não podemos verificar um ponto: aquele da passagem por Samer do rei saxão Ceadvalla, que, quando ia para Roma para ser batizado, parou para conversar sobre religião com Vilmar. Esta viagem, e em particular este colóquio, estão longe de serem documentados, mas a data 688, citada pelo biógrafo, pode ser aceita, uma vez que Ceadvalla morreu em 689. Partindo desta data se pode admitir como prováveis as outras indicações cronológicas fornecidas pelo autor: pelo ano 620 nascimento de Vilmar, 642 ingresso no mosteiro de Hautmont, 658 início da vida eremítica em Flandres, 677 chegada em Samer, de 680 a 688 construção da basílica (a igreja com a comunidade religiosa), 697 ano de sua morte.

A festa de São Vilmar é celebrada no dia 20 de julho. O [Cerimoniário] Próprio da antiga diocese de Thérouanne (ed. em 1518) lhe dedica um ofício particular de 9 leituras. As suas relíquias estavam guardadas inicialmente em Samer, onde atraíam numerosos fiéis dando ocasião a vários milagres, foram em seguida transferidas para a abadia de Mont-Blandin em Genebra. No séc. XVI foram destruídas pelos calvinistas.

Émile Brouette


* VILMAR, do alemão Vilmar, aaa. Filomar: “muito (filo) célebre (mar)”, “de muita fama”. Outros, o mesmo que Vilmaro.
** VILMARO, aaa. Willamar, alemão Villemar: “brilho (mar) da vontade (villa)”, ou “célebre na vontade”. Santo, abade em Bourbonnais, séc. VIII, cel. 20-7.
(Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes, R. F. Mansur Guérios, Ed. Ave Maria, SP 1981)

Igreja São Wilmar – Eecke - França



A igreja de Eecke tem como padroeiro São Wilmar (Wulmar). No século VII para escapar de um casamento forçado, Wilmar, natural de Boulogne refugiou-se em Flandres. Depois de ser alojados por três dias no oco de um carvalho, privado de comida, ele decidiu pregar a fé cristã nas montanhas de Boulogne. Fundou o mosteiro de Samer. Na sua morte, em 697, os habitantes da floresta, que tinham se tornado cristãos, construíram uma igreja em sua memória, e a vila que cresceu em torno se chamou Eecke (carvalho), o nome da árvore onde o santo viveu.

A igreja possui as relíquias de Santa Dorotéia e um quadro antigo, pintado sobre madeira, representando a Virgem segurando na mão uma cesta de frutas e flores. A estátua da santa não é anterior ao século XVII.

A igreja, iluminada por belíssimas janelas góticas, tem uma mobília muito bonita.





Igreja São Wilmar – Eecke - França


Eglise Saint-Wilmar em Lesve - Bélgica

sábado, 14 de julho de 2012

Homilia de Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm., na Igreja dos Carmelitas (Karmelitenkirche) em Bamberg, Alemanha



Homilia de Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm., na Igreja dos Carmelitas (Karmelitenkirche) em Bamberg, Alemanha. 15 de julho de 2012.

O jesuíta Pe. Antonio Vieira foi o maior orador de Portugal e Brasil durante o período do Barroco. No dia 16 de Julho de 1659 ele fez um famoso sermão na Igreja do Carmo de São Luís do Maranhão, norte do Brasil.
Sua argumentação começou com uma afirmação do Papa Xisto Quarto: “A formosíssima Virgem Maria, que por virtude admirável do Espírito Santo gerou a Nosso Senhor Jesus Cristo, essa mesma Virgem produziu a Ordem de Nossa Senhora do Monte do Carmo.” O Pontífice usa a palavra genuit (gerou) para Cristo e produxit (produziu) para a Ordem e família carmelitana.
Filho gerado e natural, a Virgem Maria só pode ter um, ou seja, aquele que justamente é Filho unigênito do Pai; filhos, porém, produzidos e adotivos, pode a mesma soberana Mãe ter muitos, e estes são, por especial prerrogativa e filiação, os religiosos carmelitas, aos quais produziu ad extra, dando-lhes o nome e adoção de filhos, e ad intra, que assim se pode dizer, comunicando-lhes e produzindo neles seu próprio espírito.
O pregador português afirma: “A maior excelência que se pode dizer desta sagrada religião é que os carmelitas e Cristo sejam filhos da mesma Mãe. Nem Deus podia fazer mais a Maria, que dar-lhe a seu Filho por Filho, nem Maria podia fazer mais aos carmelitas, que dar-lhes a seu Filho por irmão.”
Dirigindo-se diretamente aos carmelitas disse: “Sois filhos da Virgem Maria, mas que Filhos? Filho do seu entendimento, da sua vontade, do seu juízo e do seu amor. O seu juízo vos preferiu, e o seu amor vos elegeu”. Portanto, para o pregador jesuíta nós, carmelitas, somos filhos de Maria porque o seu amor nos elegeu como tal.
Aqui surge uma dificuldade: Se todos os cristãos e todos os dedicados ao serviço da Virgem são e se chamam verdadeiramente seus filhos, que prerrogativa é esta da Ordem Carmelitana? Se há tantas congregações e comunidades que debaixo do mesmo nome servem e veneram a Mãe de Deus, e os devotos como é que ficam? Se na cruz Jesus deu sua mãe como mãe de toda a humanidade (Jo 19,25-27), como os carmelitas podem ser filhos especiais?
É certo que todos os cristãos, todos os devotos da Virgem, todos os que por instituto se dedicam a seu serviço, debaixo do nome e patrocínio de Maria Santíssima, são e se chamam verdadeiramente filhos de Nossa Senhora. Por isso que prerrogativa é esta da Ordem carmelitana de ser especial?
Pe. Antonio Vieira busca uma explicação nas Escrituras. Aponta que entre os discípulos de Jesus havia um discípulo amado; que Jacó tinha 12 filhos, mas o seu filho especial e amado era José. Assim porque entre os filhos da Mãe de Deus não pode haver filhos especiais?
Por isso ele afirma que os carmelitas são “Filhos COM os demais, mas não são filhos COMO os demais; são com especial eleição, com especial amor, com especial nome, com especial prerrogativa, enfim, com especial filiação.”
Pe. Vieira apresenta uma jerarquia de 3 graus entre os filhos Nossa Senhora. No primeiro grau entram todos os cristãos – todos são filhos; no segundo entram todos os devotos da Virgem; fazem parte do terceiro e supremo grau todos os dedicados a seu serviço numa Congregação ou Ordem. “Mas sobre todas estas jerarquias verdadeiramente angélicas, a especialmente escolhida, e, como escolhida, amada da Rainha dos Anjos, é a sua família carmelitana.”
Pe. Antonio explicita melhor: “De todos os povos, e gentes do mundo escolheu o povo cristão, que são os seus filhos por fé; de todos os cristãos escolheu os seus devotos, que são os seus filhos por afeto; de todos os seus devotos escolheu as congregações que a servem debaixo de seu nome e patrocínio, que são os seus filhos por instituto; e, finalmente, de todos os institutos passados, presentes e futuros, escolheu a Ordem do Monte Carmelo, para que ela fosse a única e escolhida entre todos os outros filhos, e, sobre todos eles, sua; Matri suae, electa genitrici suae. Todos os outros com mais ou menos prerrogativa, e sempre com grande dignidade, são filhos da Virgem Maria; mas os carmelitas são os seus filhos, os seus: Matri suae, genitrici suae.
Qual o motivo para esta predileção e escolha? Afirma o pregador jesuíta: “Digo que foram preferidos os carmelitas pela grande semelhança que esta sagrada religião, desde seus antiquíssimos princípios, teve com Cristo. E era razão que aqueles fossem preferidos na eleição de filhos adotivos, que mais semelhantes e mais conformes eram ao Filho natural. Governou-se a Mãe de Deus neste decreto da sua eleição pelas mesmas idéias das eleições e decretos divinos.”
Assim, de acordo com o pensamento do grande pregador Pe. Antonio Vieira, os carmelitas são filhos especiais de Maria, e foram escolhidos por causa da grande semelhança que a Ordem do Carmo teve com Cristo.
Olhando a história do Carmelo vamos encontrar um grande número de santos e místicos. O Carmelo pode se orgulhar de seus santos e autores espirituais, como Alberto de Trapani, Pedro Tomás, João Soreth, Teresa de Ávila, João da Cruz, Teresinha do Menino de Jesus, Edith Stein, Tito Brandsma, Alois Erhlich, etc.
Em sua carta por ocasião dos 750 anos do Escapulário, o Papa João Paulo II reconhece este aspecto do Carmelo: “Desta espiritualidade mariana, que molda interiormente as pessoas, configurando-as com Cristo, o Primogênito entre muitos irmãos, são exemplo preclaro os testemunhos de santidade e de sabedoria de tantos Santos e Santas carmelitas, os quais cresceram, todos eles, à sombra e sob a tutela da Mãe (n. 6)”.
Mas se no momento atual não houver carmelitas que tenham “grande semelhança com Cristo”, de nada adiantará um passado glorioso. Em outras palavras, o Carmelo deve ter seus santos também nos tempos atuais e não só os do passado.
Este é um dos desafios que a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo nos apresenta cada ano: darmos uma resposta positiva ao chamado à santidade na ótica da mística e da espiritualidade carmelitanas.
O carmelita não pode perder de vista a dimensão missionária. Neste sentido os carmelitas de Bamberg podem se orgulhar porque enviaram vários missionários para o Brasil. O ponto de partida deles sempre foi Bamberg e esta igreja dos carmelitas. Estes missionários anunciaram o Evangelho e serviram o povo de Deus principalmente no Estado do Paraná. Um deles, Dom Alberto Foerst, se tornou bispo de Dourados e celebrou recentemente 60 anos de ordenação sacerdotal nesta igreja. Se hoje no Brasil, onde estes missionários trabalharam, há comunidades florescentes e bem estruturadas, nada mais é do que fruto da graça de Deus e do trabalho destes abnegados carmelitas. Muitas pessoas frequentadoras desta igreja sustentaram a missão com orações e economicamente. Estas pessoas não foram enviadas para a missão, mas tinham consciência de que também eram responsáveis. Por isso rezaram muito pelos missionários enviados e fizeram ofertas para o sustento de seus seminários e obras.
Eu sou fruto do trabalho realizado pelos missionários carmelitas alemães. Fui batizado por Frei Ulrico Goevert, o primeiro carmelita enviado nesta igreja para o Brasil. Entrei aos 11 anos no seminário dos carmelitas em Graciosa/Paranavaí. Como meu pai não tinha condições de pagar a mensalidade, os padres disseram: “nós temos o apoio de boas pessoas lá na Alemanha que ajudarão pagar o sustento do seu filho no seminário”. Tal aconteceu. Como padre, mais de uma vez já agradeci nesta igreja a ajuda recebida. Agora, como bispo, quero mais uma vez agradecer o povo alemão, em especial de Bamberg, pela ajuda enviada para os carmelitas do Brasil. Também quero agradecer todos alemães que ajudaram a Igreja no Brasil e na América Latina através das instituições Adveniat, Kirche in Not, Miserior, etc. Sem esta ajuda, provavelmente hoje eu não seria bispo. Por isso, o meu muito obrigado e que Deus vos abençoe e conceda saúde, alegria e perseverança na fé. Como forma de agradecimento a todos os benfeitores já falecidos, estou fazendo uma intenção particular por todos eles nesta santa missa.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Carta aos Povo de Deus na Amazônia (no Brasil e mundo)


Irmãs e irmãos caríssimos em Cristo Jesus,
Povo de Deus na Amazônia,

“Não tenha medo, cotinue a falar e não se cale, pois eu estou contigo“ (At 18,9)

“Cristo aponta para a Amazônia“ lembrava o Papa Paulo VI aos bispos da Amazônia por ocasião de seu encontro em Santarém, de 24 a 30 de maio de 1972, marco indelével na história da Igreja desta grande região brasileira, habitada por povos de culturas e tradições tão diferenciadas do outro Brasil.

Expressamos nossa gratidão ao Deus da vida porque nestes 40 anos, não obstante nossas fragilidades, nossa Igreja tem anunciado Jesus Cristo ressuscitado, caminho, verdade e vida e tem marcado presença junto ao povo sofrido, sendo muitas vezes a voz dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros e migrantes, nas periferias e em novos ambientes do centros urbanos animando as comunidades na reivindicação do respeito pela sua história e religiosidade. É também a vida destes povos, seu modo de viver, sua simplicidade, seu protagonismo, sua fé que nos encantam! Não faltou o testemunho de entrega da própria vida até o derramamento de sangue. Este testemunho nos anima, nos encoraja e nos fortalece. São também protagonistas religiosos e religiosas, pastorais, movimentos e serviços que tem sido uma força viva e atuante na realidade das nossas comunidades.
Constatamos avanços no campo social e político, com novos organismos de participação, conselhos de políticas públicas, participação nas campanhas por leis mais justas, aumento da consciência e engajamento na questão ecológica. No campo econômico, cresce o consumo e o poder aquisitvo embora nem sempre acompanhado do aumento da qualidade de vida. A vida na Amazônia continua sofrida.
Há séculos os povos da Amazônia gemem e choram sob o peso de um modelo de desenvolvimento que os oprime e exclui do “banquete da vida, para o qual todos os homens e mulheres são igualmente convidados por Deus“ (SRS 39). A Igreja ouve os gritos, às vezes desesperados, e se identifica com o seu clamor, conhece o seu sofrimento. Mais ainda, a Igreja declara que “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e angustias dos discípulos de Cristo“ (cf. GS 1).

As decisões sobre o desenvolvimento da Amazônia sempre são tomadas a partir de fora e visam unica e exclusivamente a exploração das riquezas naturais sem levar em conta as legítimas aspirações dos povos desta região a uma verdadeira justiça social. Quando Paulo VI declarava que “o desenvolvimento é o novo nome da paz“ (PP 87), não pensava num “crescimentismo“ meramente econômico, unilateral e excludente, mas convidava a todos os povos da terra a empenhar-se por um mundo justo, fraterno e solidário, na perspectiva do Reino que Jesus veio a anunciar “para que todos tenham vida“ (Jo 10,10).

Como quarenta anos atrás, a Amazônia continua sendo considerada a “colônia“, mesmo que abranja mais da metade do território nacional. Para a metrópole – Brasília, o sudeste e o sul do País – Amazônia é apenas “província“, primeiro província madeireira e mineradora, depois a última fronteira agrícola no intuito de expandir o agronegócio até os confins deste delicado e complexo ecossistema, único em todo o planeta. De uns anos para cá a “província“ recebeu mais um rótulo, sem dúvida o mais desastroso, pois implicará a sua destruição programada, haja visto o número de hidrelétricas projetadas para os próximos anos: a Amazônia é declarada a província “energética“ do País. Sob a alegação de gerar energia limpa se esconde a verdade de que mais florestas sucumbirão, mais áreas, inclusive urbanas, serão inundadas, milhares de famílias serão expulsas de suas terras ancestrais, mais aldeias indígenas diretamente afetadas, mais lagos artificiais, podres e mortos, produzirão gases letais e se tornarão viveiro propício para todo tipo de pragas e geradores de doenças endêmicas.

A história da Amazônia revela que foi sempre uma minoria que lucrava às custas da pobreza da maioria e da depredação inescrupulosa das riquezas naturais da região, dádiva divina para os povos que aqui vivem há milênios e os migrantes que chegaram ao longo dos séculos passados.

Santarém 1972: Encarnação na Realidade e Evangelização Libertadora

Como já em 1972, os bispos reunidos em Santarém de 2 a 6 de julho de 2012 não detectam apenas os mecanismos perniciosos responsáveis pela miséria dos povos e a devastação das florestas, mas os denunciam como responsáveis de gerar “ricos cada vez mais ricos às custas e pobres cada vez mais pobres“ (João Paulo II, Discurso inaugural de Puebla, 28 de janeiro de 1979) e de um meio-ambiente cada vez mais deteriorado. O “lar“ (em grego “oikos“ – daí a palavra “ecologia“) que Deus criou para todos nós não pode ser explorado até a exaustão, mas exige cuidado, zelo, amor, também em vista das futuras gerações. Os cientistas alertam sempre mais que a devastação da Amazônia terá consequências irreversíveis para o clima do planeta e se torna assim uma ameaça à vida e sobrevivência de toda a humanidade.

Em 1972 os bispos da Amazônia já identificaram graves feridas neste mundo de selvas e águas que atingiram violentamente os povos originários e tradicionais da região. Como 40 anos atrás, também hoje os bispos se entendem como mensageiros dos povos da Amazônia, profetas que vivem numa grande proximidade com Deus e ao mesmo tempo sintonizados com os acontecimentos históricos, homens de fé que „vêm da grande tribulação“ (Ap 7,14). Nestes nossos tempos, as feridas se tornaram chagas abertas que perpassam e sangram a Amazônia de fora a fora, causando cada dia mais vítimas fatais.

As prioridades da ação pastoral e evangelizadora apontadas em 1972 continuam atualíssimas. Até hoje uma formação adequada à essa região para ministros ordenados, mas também para leigas e leigos que dirigem as comunidades, é fundamental. Importa encarnar a Igreja no chão concreto da Amazônia. Quem exerce um ministério, ordenado ou não, participa do pastoreio de Jesus e está a serviço de seus irmãos e irmãs e quer exercê-lo na simplicidade do lava-pés e numa proximidade fraterna ao Povo de Deus.

As Comunidades Cristãs ou Eclesiais de Base tão recomendadas no Documento Santarém 1972 são expressão de uma Igreja viva e comprometida. Como os bispos já afirmaram em Manaus (2007), elas constituem um dom especial que Deus concedeu à Igreja na Amazônia. São obra do Espírito Santo. O que o Documento de Aparecida afirma, aplica-se de modo especial à Amazônia. As CEBs, diz o documento, “têm sido escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DAp 178). As CEB’s são também uma resposta válida e empolgante para o mundo urbano como resposta ao individualismo e a superficialidade do consumismo. Nas CEBs se vive a dimensão samaritana da compaixão ativa e interajuda, de um coração e mãos abertas para quem sofre ou passa necessidade, mas também a dimensão profética de anunciar continuamente a utopia do Reino e, ao mesmo tempo, denunciar todos os mecanismos e estruturas que impedem a chegada do Reino. É exatamente esta dimensão profética que gerou as e os mártires da Amazônia. As CEBs constituem-se em família das famílias onde todos se conhecem e querem bem, mas são também centros de oração e meditação da Palavra de Deus para nutrir a mística profunda da vivência na proximidade de Deus. Ele mesmo se revelou como um Deus-conosco e assegurou aos profetas, apóstolos, discípulas e discípulos: “Eu estarei contigo“ (cf. Ex 3,14; Js 1,9; Jr 1,19; At 18,9-10). Afinal “se Deus está conosco, quem será contra nós“ (Rom 8,31).

Santarém 1972 assume a questão indígena como causa de toda a Igreja na Amazônia. Lembra que no mesmo ano por iniciativa dos bispos, mormente dos da Amazônia, foi fundado o Conselho Indigenista Missionário – Cimi.
Os bispos talvez não imaginavam quarenta anos atrás o imenso apoio que sua decisão significava aos direitos e à sobrevivência de dezenas de povos indígenas na região amazônica que, sem o empenho intransigente da Igreja, teriam desaparecido. A presença solidária e o apoio incondicional à luta por seus direitos foi fundamental para que hoje a maioria dos povos indígenas da região tenha suas terras demarcadas. Foi também de enorme importância gerar uma consciência de respeito e valorização dos povos, suas culturas e seus projetos de “Bem Viver“. Dezenas de povos saíram do silêncio em que foram forçados a se ocultar para sobreviver. Ressurgiram das cinzas e estão lutando pelos seus direitos e suas terras. Alem disso a atuação corajosa dos missionários, selando seu compromisso através do sangue derramado pela vida desses povos, propiciou o surgimento de articulações e organizações dos povos indígenas, essenciais para a conquista de seus direitos e sua autonomia.
Os riscos de extermínio de vários grupos indígenas em estado de isolamento voluntário, exige um renovado compromisso com a sobrevivência de milhares de vidas e povos ameaçados de extinção.

Na perseverança salvareis vossas vidas (Lc 21,19)

Deparamo-nos hoje com uma verdadeira enxurrada de grandes projetos que os Governos querem implantar, seguindo a estratégia do “fato consumado“. Não há discussão, nem consulta popular que merecesse este nome. Decide-se e executa-se. Oponentes são criminalizados ou taxados de inimigos do progresso. Também os ribeirinhos, seringueiros, quilombolas, e outros povos tradicionais sofrem pela falta de reconhecimento suas terras.
A ética na política prometida à nação e esperada pelo povo brasileiro cedeu lugar a uma sequencia ininterrupta de escândalos de corrupção em todos os níveis governamentais.
Somado a estes desafios nos deparamos com a emergência do fenômeno urbano, com o inchaço nas periferias das grandes cidade, exploração sexual, tráfico de pessoas e de drogas, violência. Em vez de investimentos em políticas públicas de saneamento básico, saúde, educação e segurança, o Estado prioriza políticas compensatórias, apoia e incentiva o grande capital, investe na construção de estádios monumentais e outras obras faraônicas.
“Podem roubar-nos tudo, menos a esperança” (D. Pedro Casaldáliga). No caminho de “Santarém”, novamente nos lançamos nas estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das cidades, nos grandes centros urbanos desta imensa Amazônia, abraçando a Missão que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia. Nesta hora da história o nosso coração às vezes, se angustia por causa de tantas dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis; no entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança, como âncora firme e segura (cf Hb 6,19), de um mundo novo, inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado..

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